Como criar adolescentes – na base da loucura!

Ser mãe de adolescente é garantir um pedacinho do céu. Um pedacinho não, um puta pedaço! Eles se acham donos do mundo, não respeitam regras, fazem o que querem e tem certeza que são os maiorais. Mas é lógico que toda mãe tem que se impor, nem que seja pela loucura. Estranho? Não. Filho adolescente só é vencido quando você prova, por A + B que pode ser tão irracional quanto ele. Ou até mais.

Uma grande arma que nós temos é o fato de sermos mães. E, portanto, detentoras do maior mico do mundo. Estar com a gente é vergonhoso, ligar, conversar, tudo que tenha a ver com a progenitora nessa fase é tachado como mega mico. E é aí que entra a nossa loucura.

Tem alguma coisa mais irritante do que celular de filho desligado? Tudo bem ele desligar durante a aula, acho até louvável, mas antes e depois não. Celular é feito para receber e originar ligações, senão nem precisava ter, correto? Então vejam como podemos colocar limites nesses seres tão especiais.

Ontem, às 11 horas da manhã, meu filho de 16 anos me liga assim:
– Oi mãe.
– Ei filho, tudo bem?
– Não.
– Porque?
– Não tenho dinheiro para pagar o almoço.
Pausa esclarecedora: Perguntei 800 vezes para a pessoa se ele precisava de dinheiro e ele me disse que “não, tá de boa”.
– Filho, olha se você consegue emprestado com alguém. Se não, me liga de novo e eu levo para você.
– Vou ver, tchau mãe!
– Tchau não. São 11 horas. Se até às 11:30 você não conseguir, me fala. E NÃO DESLIGA O CELULAR.

Nunca na história da humanidade essas palavras foram tão mal interpretadas. É só falar para um adolescente não desligar o celular que a primeira coisa que ele faz é exatamente isso.

Esperei pacientemente até as 11:30hs. Nada da pessoa retornar. Liguei. E deu o que? DESLIGADO. Tentei mais algumas vezes até as 12:20hs. NADA. Deu a louca. Não é a primeira vez que isso acontece e resolvi reagir. Saí do meu trabalho, peguei um táxi e fui de encontro à pessoa. No trajeto, ainda bufando, contava as mazelas para o motorista que me confortava com seus filhos mais velhos e bem sucedidos, cada um morando em um oposto do nosso país:
– Ainda bem que os meus já estão criados!

Ainda bem mesmo, penso segurando para não explodir. Chego ao CEFET e vou atrás da peça rara em sua sala de aula. Já pergunto por ele da porta. Acho que o bichinho nunca ficou tão assustado na vida:
– Vem aqui um minutinho, por favor, filho.

O que se segue a essa frase são 10 minutos de uma mãe descontrolada tentando mostrar para o filho que, se ele fala que não tem como se alimentar, ela vai passar o resto do dia preocupada com ele. Simples assim.
– Mas eu comi, mãe!
-Então porque não me falou? Custa mandar uma mensagem assim: COMI.PODE PARAR DE SE PREOCUPAR. Isso se chama falta de consideração, filho! E blá blá blá blá…

No fim, ele ainda atônito, pega o dinheiro que entrego com ódio e aviso:
– Se não me der notícias à noite, se prepara porque eu volto! – Ele faz parte de um projeto de robótica e passa grande parte do seu tempo em reuniões e aulas, por isso a minha preocupação maior com a alimentação. Não tem como um adolescente ficar até 10 horas da noite sem comer.

Respirei fundo e fui embora. Ele calmo, sereno, como sempre foi. No meio do meu furacão, suas únicas frases foram: Eu sei, mãe…Você sabe que eu sou assim, mãe…

Eu sei. Sei que adolescente teima em enlouquecer mãe. De manhã até de noite. Mas sei também que posso ser MUITO mais louca. E que isso dá resultado. O que se segue ao meu descontrole é uma mensagem avisando a entrada para a reunião e uma ligação dizendo que já tinha acabado. Afinal, amor e respeito fazem bem para todo mundo. E para a minha sanidade também!